sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Reduzir o ruído em um decibel, evitaria 468 mortes por ano em Madrid

Muita gente se preocupa com o ruído do vizinho e se esquece que uma das principais fontes de males à saúde é o ruído urbano, aquele que está nas ruas. Embora exista legislação para disciplinar os níveis de ruído urbano, pouca importância é dada para esse problema de poluição. Alguns estudos mostram uma relação entre o excesso de ruído e doenças cardíacas e respiratórias.
O texto a seguir é uma tradução livre de um artigo publicado no jornal espanhol El País.
Ruído e poluição atmosférica
Nas grandes cidades, é frequente a preocupação com os níveis de poluição atmosférica. Em Madrid, a falta de chuva geralmente produz uma nuvem de poluição sobre a cidade com consequências para a saúde que, provavelmente, todos os cidadãos reconhecem. Porém, há outro perigo ambiental que as pessoas tendem a não reconhecer, talvez por ser invisível: o ruído.

Na Europa Ocidental, este problema é a principal causa de doenças de origem ambiental, atrás apenas do ar contaminado. Um relatório da Organização Mundial de Saúde e da Comissão Europeia concluiu que se somado o impacto sobre os 340 milhões de habitantes da região, se perde um milhão de vidas saudáveis por ano. Outra análise recente da Agência Europeia do Meio Ambiente estima que mais de 125 milhões de europeus suportam níveis de ruído superiores aos recomendados pela União Europeia, que é de 65 decibéis para o dia e 55 para a noite, e estimou em 10.000 o número de mortes prematuras, anualmente, atribuíveis ao excesso de ruído.
Alterar 12% dos carros para elétricos significa uma redução de ruído em meio decibel.
A principal fonte de ruído nas cidades é o tráfego rodoviário. Em Madrid, por exemplo, essa fonte pode ser atribuída a 80% do total. Um grupo de pesquisadores espanhóis tentou quantificar, através de modelos estatísticos, a dimensão do problema para a saúde o ruído proveniente de carros em Madrid, em pessoas com mais de 65 anos. O estudo, publicado na revista Environmental Research, estima que o nível de ruído diurno associado com 1.048 mortes por doenças cardiovasculares e 1.060 por doenças respiratórias. Baseado nesses dados calcula-se que a redução média de um decibel nos níveis de ruído durante o dia poderia reduzir o número de mortes em 468, sendo 284 mortes anuais de origem cardiovascular e 184 relacionadas com problemas respiratórios.
Nos últimos anos, muitos estudos realizados encontraram uma correlação entre a exposição ao ruído e problemas cardiovasculares, como a hipertensão ou infarto do miocárdio. Algo semelhante aconteceu com problemas respiratórios. Por trás dessa conexão, entre outros fatores, pode estar o cortisol, um hormônio que é liberado em resposta ao estresse. O ruído aumenta o estresse e desencadeia a produção de cortisol, que por sua vez ativa o metabolismo do tecido adiposo para aumentar a oferta de energia e que o corpo responda melhor ao estresse. Esse efeito acabaria agravando problemas como a arteriosclerose.
Outros estudos mediram diferenças nos níveis de cortisol na saliva de crianças que dormem em ambientes ruidosos e silenciosos. A presença do hormônio foi superior com ruído e a maior quantidade de cortisol foi associada a uma resposta pior do sistema imunológico. Isto poderia estar por trás do agravamento de problemas respiratórios.
Como reduzir o ruído?
Uma vez que o ruído seja reconhecido como um problema de saúde, de acordo com Julio Diaz, pesquisador do Instituto de Saúde Carlos III e um dos quatro autores do estudo, existem muitas ferramentas para lidar com isso. “Se 12% dos veículos fossem elétricos, já se conseguiria reduzir meio decibel”, diz ele.
Outra maneira de reduzir o problema é a utilização de um tipo de asfalto muito poroso que permite a dissipação do ruído baixo, limitando o impacto do ruído na população. “Madrid tem regiões do M30 [uma das estradas de circundam a cidade] que têm asfalto muito menos barulhento, e outras vias da cidade com paralelepípedos, que do ponto de vista de ruído faz uma grande diferença”, diz Diaz. Algumas empresas também começaram a produzir pneus capazes de reduzir o ruído até 9 decibéis.
Fonte: El País


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